FLAVIO MPINTO Rouge 442- o espírito da Campanha-2018
FlavioMPinto
A campanha gaúcho-uruguaia é cheia de estórias. Seu povo hospitaleiro, o clima ás vezes hostil que afasta as pessoas, mas as une em torno de um braseiro com um chimarrão amigo de mão em mão. A fronteira plana e permeável ao tráfego de pessoas permite que andemos nos dois lados e ás vezes nem sabendo em que país estamos. Tudo se mistura, gente, línguas, costumes, folclore, comércio, paladares.
Fazer uma crítica do meu vinho é como o cachorro brincar com rabo. Seria até antiético se não fosse meu. Me lembra uma entrevista da cantora Maria Rita, onde uma “repórter”, perguntou se ela não sentia vergonha de imitar Elis Regina. A cantora respondeu que “sentiria, se ela não fosse minha mãe!” Eu não sei onde a repórter se escondeu depois dessa.
Mas o Rouge está aí e vou relatar as primeiras impressões e o que eu já esperava do Blend.
Ele é um blend de Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot, uvas que se aclimataram muito bem na região, uma das últimas fronteiras vitivinícolas do mundo, a região da Campanha gaúcho-uruguaia.
Um vinho de autor, onde colaborei com a concepção do vinho escolhendo as uvas e as proporções entre elas e o enólogo uruguaio Thiago Gutierrez, da Bodega 636, Rivera-Uruguai, concretizou meu sonho.
A própria vinícola se encontra na linha divisória e, 636, é o nome do marco trigonométrico de fronteira internacional que está ao lado de um dos vinhedos. Não quis deixar passar essa safra de 2018, que se apresenta como uma das melhores dos últimos 50 anos.
Não passou por correções em barricas, portanto, é a mais pura expressão das uvas que o integram: o verdadeiro Espírito da Campanha.
De cor violeta bem definida e intensa, aromas suaves de frutas vermelhas com destaque para cerejas e framboesas.
Na boca continua suave, mas bem encorpado com persistentes sabores de cassis, mirtilos, frutas negras silvestres, como amoras. Um sabor delicado de laranjas e limões, surge no final, como ato representante da Tannat.
O teor de 13,4 % de álcool o deixa muito equilibrado e elegante ao ombrear com os taninos, aromas e acidez marcante.
A potência da Cabernet Sauvignon, a maciez da Merlot e força da Tannat se fazem presentes dando complexidade, personalidade e caráter ao Rouge 442.
A harmonia na complexidade entre os aspectos constituintes do vinho é destaque.
Já esperava isso do Rouge: elegância, equilíbrio, aristocracia. Reflexo das maiores virtudes das cepas envolvidas e presentes no blend.
Um vinho amigável, como o espírito hospitaleiro da gente da fronteira, mas ao mesmo tempo complexo de nuances.
Era o vinho que gostaria de chamar de meu e , penso, que consegui atingir o objetivo.
Meus agradecimentos á 636 e ao Thiago.