MAIS UMA DOS VINHOS!
FlávioMPinto
Dias atrás fui surpreendido, numa degustação de vinhos, sobre um tema interessante: está ocorrendo um movimento contrário as grandes marcas mundiais e vinhos longevos de tradição. Ninguém sabe de onde surgiu.
É, surge cada uma a cada dia que passa, mas lutar-se contra o que é mais tradicional nesse mercado, que vive de tradição, para mim, beira insanidade.
As grandes marcas, os grandes châteaux franceses estão sendo brutalmente atacados, pela corrente contrária, com o argumento de que poucos vão comprar um vinho e não vão aguentar 20/30 anos para esperar que ele chegue ao seu potencial máximo para consumo!
Semana passada tive uma experiência interessante: fui degustar um vinho conhecido e não gostei. Vaticinei que a permanência nas barricas alterara brutalmente o caráter da cepa engarrafada e desvirtuara o produto. Pois bem. Arrolhei novamente e guardei. Não era um vinho de características longevas, muito menos constante dos portfólios de vinhos sofisticados que mereceriam uma decantação. Era um vinho simples desses encontrados em qualquer supermercado, mas com um preço pouco acima da média indicando sua qualidade.
Degustei quatro ou cinco dias depois e seu comportamento alterara-se brutalmente. Para melhor, claro.
Daí vem a comparação com os vinhos longevos franceses e italianos, principalmente. Essa espera faz a diferença e diferencia “os adultos das crianças”, como bem se diz nos ditos populares.
A oxigenação ou aeração é uma medida que só o tempo diz os benefícios que apresenta. O nosso paladar é que agradece!
Vejamos, o mercado dos champanhes move-se pela marca! Ninguém se preocupa se ele foi produzido de Chardonnay, Pinot Meunier, Pinot Noir….O que importa é a marca que consegue produzir milhões de garrafas daquele líquido fantástico com mesmo nível de qualidade!
Os borgonheses dominam todo o ciclo de produção dos espumantes franceses chegando ao ponto de limitar a data e fim da colheita e a quantidade de litros resultante da primeira prensagem. Numa Appellation todos seguem esse caminho em prol da manutenção histórica da qualidade. Tradicionais produtores seguem procedimentos rotineiros seculares com inegável aceitação do mercado.
Qual é a lógica de renegar procedimentos tradicionais dos produtores e chegar ao ponto de tentar conflitar procedimentos dos degustadores na busca de um melhor aproveitamento do produto?
Não tenho dúvidas que é uma guerra mercandológica e imediatista.
Só quem entra nessa guerra é quem nunca degustou um vinho longevo ou tem interesses inconfessos de mercantilizar seu vinho jovem.
Na Argentina, aconteceu fenômeno semelhante: tentaram desmistificar o consumo do vinho barateando-o e resumindo os requintes de degustação. O resultado é que lá o consumo baixou drasticamente, de 58 para 18 litros per capita anual, tendo os consumidores passado para a cerveja! O tiro saiu pela culatra!
O vinho é um bem mundial e a bebida mais antiga da Humanidade, resguardada na presença nos cerimoniais mais antigos que se tem notícia.
Vinho é tradição, aristocracia, história, trabalho incansável na busca da qualidade.
Vinho é a bebida dos reis e assim merece ser tratada.