O VINHO- PRAZER, VÍCIOS E VIRTUDE.
by FlávioMPinto
O escritor filósofo americano Roger Scruton nos trás valiosos ensinamentos sobre o vinho, abordando a filosofia que cerca a bebida de Bacco / Dionísio, no seu livro Bebo, então existo( Ed OCTAVO -São Paulo 2011).
Que o vinho é uma bebida diferenciada, única, e agrega valores, sabemos. Mas a filosofia que carrega cada gole, ou uma degustação plena com amigos ou mesmo só, pouco é comentada.
Começamos com o bebedor, melhor dizendo o degustador, pois vinho não se bebe, se degusta. Sorve-se cada gole sentindo o líquido indo até o reconhecimento da terra que o produziu, o terroir, e sua história. Os vinhos mais aristocráticos recebem o nome do terroir e não um fantasia!
Scruton divide os vícios em dois grupos: os danosos e os virtuosos. Em ambos o álcool se faz presente.
Os danosos são os que causam dano ao se pronunciarem no corpo, começando com as alterações de atitudes.
Já os virtuosos, conduzem a virtudes.
O vinho inebria e não deixa o degustador perder a consciência, enganando-se com mundos fantasiosos que não existem, como nas demais bebidas alcoólicas e nas drogas. Daí vem o diferencial do vinho.
O prazer, que cada degustação dá a quem o aprecia, e valoriza, é imensurável. A medida que o líquido de Bacco, com seus aromas, entrando pelas narinas e depois descendo , se apossando da boca e da garganta, apresentando suas características, personalidade, caráter e origem inequívocas. Sem esconder um detalhe sequer.
O vinho fala com seu consumidor.
Os efeitos mentais da degustação de um vinho ultrapassam a simples ingestão. O próprio ritual da degustação já eleva a discussão para um patamar acima do normal. A degustação é sensitiva e não material, dependendo da percepção de cada um, gerando buscas na linguagem para melhor identificar aromas, sabores e outros aspectos técnicos. Aí já começa o crescimento intelectual e espiritual do consumidor.
Ele( o vinho), nos trás para dentro de uma vida regrada, de respeito ás normas de convivência e educação, respeitando as nossas ilusões, evidenciadas pelo controle da bebida, permitindo-nos até viajar no tempo. Isso inicia no serviço.
O convívio com o vinho permite agregar valores significativos individualmente e a grupos a medida que impõe a verdade e o respeito.
Talvez sejam esses, alguns dos valores evidenciados de sua presença nas religiões e seus cerimoniais.
Não esquecendo, também, da autoridade que o acompanha, calçada na verdade, respeito, tradições e honestidade que carrega.
Os vinhos mais tradicionais carregam uma aristocracia e finesse como poucos produtos, deixando seu teor de álcool , como coadjuvante e não colaborando para anestesiar o consumidor.
O efeito inebriante do vinho nos conduz á verdade, que foge dos degustadores comuns.
O vinho é um universo á parte na sociedade.
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