A INFORMAÇÃO SOBRE O TERROIR NOS RÓTULOS
FlávioMPinto
Antes de alguma coisa, vamos relembrar o que é terroir: uma reduzida parcela do terreno com um conjunto de fatores, clima e geologia ímpares, únicos, que influenciam o parreiral, gerando uma tipicidade ao produto.
”Vinho que se preze tem algo de magia. Um quê diferente na boca que o faz único. Sua alma, sua identificação individual a começar pelo rótulo, sua vestimenta.
Uma aura de estilo que o define como tal, já na apresentação, pois não tem um vinho igual a outro. É a primeira impressão que se tem.
Uma personalidade que vai se definindo desde a visão de seu corpo até a prova definitiva na boca”.
Isso escrevi em 2010 sobre um vinho.
Qual é o receio das vinícolas brasileiras em colocar a localização de seus terroir nos rótulos?
Outro dia, li numa publicação que se referia a região da Campanha, Denominação de Origem-DO, recém dada pelo INPI, de Uruguaiana a Bajé perfazendo ”45 quilômetros quadrados”. Ora, só de Uruguaiana a Livramento, metade da região, são duzentos quilômetros!!! Quanta ignorância da repórter!
Uma denominação de Origem se pressupõe uniformidade de condições na mesma região. O terroir do Romanée Conti, um dos vinhos mais caros do planeta, é nada menos do que 2,6 ha!! Por conseguinte não poderemos ter numa região de 600 km de comprimento por 200 de largura as mesmas condições climáticas e geológicas.
Numa propaganda de uma vinícola, é abordado que o vinho é da região da Campanha gaúcha fronteira com o Uruguai. Quantos km temos de fronteira com esse país?
O clima é o mesmo no Seival e em Itaqui? certamente que não!
A Lei
9279/96, no artigo
178 trata de Denominação de Origem: “Considera-se Denominação de Origem o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos”.
Daí resulta na tipicidade do produto localizado numa Denominação de Origem. Porque não colocar Vinho gaúcho, como nos Gran Vin du Bordeaux e essa seria a DO mãe.
Grande Vinho da Campanha seria uma designação-mãe sensacional para aqueles vinhos e espumantes de toda região da campanha. Depois viriam as específicas. Seival, Palomas, Herval, Serra do Sudeste, Campos de Cima da Serra, Campos de Cima, e outros.
Mas isso não ocorre porque as vinícolas não fazem distinção do terroir das suas vinhas! Sonegam essa informação de seus clientes apreciadores. Existe uma vinícola que produz seus vinhos em Quaraí, mas diz que é região da Campanha. Custa informar o local do terroir de seus vinhos, que são excelentes?
O vinho nasce, cresce, é vinificado em torno do local onde são cultivadas as uvas que o compõem. Esses locais dão nome ao vinho.
Já ouviram falar em Barolo, Barbaresco, Montalcino, só para citar alguns vinhos tradicionais, famosos e competentes da Italia? quem não lembra do francês Châteauneuf-du-Pape?
Vinho é terroir!
É também requinte, aristocracia, história, carregada pelo nome do terroir.
É uma marca que especifica o DNA do vinho.
O vinho se chama pelo nome do terroir. Um Graves, um Sauternes, um Pomerol, um Bordeaux.
O Brasil ainda está muito longe de especificar o terroir e dele identificar o vinho.
O Rio Grande do Sul já teve uma região que poderia ser a primeira DO de fato: Palomas, um distrito de Santana do Livramento, berço das uvas finas no Brasil. Essa talvez seja a região identificada como “região da Campanha “ pela repórter que fez a matéria acima citada. Ali sim, são aproximadamente 45 Km quadrados com vinhedos da Almadén e Cordilheira de Santana, que por desconhecimento a repórter chamou pelo nome citado.